Estimulando a
construção de cenários
Para que estes textos?

Marco Aurélio Fernandez Velloso


Durante muitos anos, particularmente no ambiente brasileiro, deixamos de lado qualquer esforço no sentido do planejamento de longo prazo. Premidos por uma realidade agudamente recessiva, envoltos pela voragem inflacionária fora de todo controle, todo o esforço estava concentrado na administração do curto prazo, na luta incessante pela sobrevivência cotidiana.

Ao mesmo tempo, no mundo em geral, assistimos à gradativa queda da credibilidade dos futurologistas que, até o início da década de 70, foram capazes de empolgar a muitos com suas antecipações tantas vezes catastrofistas. É verdade que devemos a eles, em razão do efeito elíptico das profecias auto-destrutivas, alguns resultados importantes para o cotidiano de nossa vida: é indubitável que sem as advertências do Clube de Roma, por exemplo, seriam inimagináveis os avanços no controle ambiental que hoje se generalizam por toda parte.

Paradoxalmente, ao par do desestímulo à reflexão de mais longo prazo, a aceleração dos processos de mudança, em âmbito mundial, foi se tornando cada vez mais inexorável.

Na verdade, as mudanças se tornaram tão rápidas que, para se falar de tendências de mudança não é mais necessário fazer uma tentativa de penetração incerta na névoa do futuro: de certo modo, a consideração do presente — e, principalmente, das variáveis emergentes no ambiente cotidiano — permite, em muitos casos, bases bastante seguras para se iniciar a prospecção do futuro.

O fato, hoje, é que tanto instituições da mais variada natureza quanto comunidades municipais (que começam a adotar práticas de orçamento participativo) passam a reconhecer, de novo, a necessidade de uma reflexão estratégica sustentada na cuidadosa construção de cenários prováveis e desejáveis. E isso por uma razão muito simples: a possibilidade de conquista de uma posição competitiva mais favorável num mundo cada vez mais globalizado está diretamente relacionada com a acuidade de leitura, hoje, das tendências do amanhã.

Os textos que aparecem a seguir estão destinados a favorecer este esforço, e não a substituí-lo.

São textos que tratam do futuro, com os pés plantados no hoje. São textos polêmicos, que não se furtam à consideração de questões espinhosas. São textos que falam dos dramas da mudança, da miséria e da glória da espécie humana e dos processos contraditórios através dos quais ela constrói seu destino. Mas são também textos que, apesar de não se furtarem à consideração da crueldade que tantas vezes acompanha os processos de transformação da História, nunca perdem uma perspectiva ética e humanista.

Foram escritos com um enfoque psicossocial e interdisciplinar, procurando entrelaçar dados da realidade e do comportamento humano.

Ao fim de sua leitura fica, intencionalmente, a sensação de incompletude. São muitos os pontos obscuros, grande é a curiosidade quanto aos múltiplos desdobramentos possíveis da História.

Avançam-se, no entanto, algumas conclusões:

A primeira, é a de que os novos tempos, quando considerados os cenários mais gerais expostos, estão propondo aos seres humanos desafios radicais, que implicam numa profunda mudança no modo como se vêem — e se representam mutuamente em seu mundo interno — nas suas relações uns com os outros, o que exige a construção de um novo modo de pensar, de significar o mundo, de receber, processar e retransmitir informações num ritmo aceleradíssimo, para o que, na verdade, não estamos preparados.

De outro lado, do ponto de vista da sociedade brasileira, vê-se que não só estará sofrendo as conseqüências inexoráveis desse processo mais amplo, como, também, estará sendo profundamente sacudida para superar os impasses históricos com os quais se confronta. Neste sentido, para o homem brasileiro, o impacto do surgimento de uma nova organização planetária exigirá uma profunda mudança no modo de conceber seu próprio lugar na comunidade mundial.

A construção de uma nova civilização exigirá esforços imensos, e numa perspectiva interdisciplinar, para que possam ser criadas novas referências para a vida nos grupos, nas famílias, nas instituições, e na própria comunidade.

Por tudo isso, os textos que o InterPsic coloca à disposição dos visitantes nesta seção de seu site são ideais para sensibilizar grupos de reflexão estratégica ou de prospectiva.

Você poderá imprimi-los ou fazer o download deles, utilizando-os no seu ambiente de trabalho, com a única ressalva de sempre fazer referência à sua autoria e à fonte de sua publicação.


Artigo publicado no site do InterPsic: http://www.interpsic.com.br/saladeleitura/texto42.html , São Paulo. 1.997